Assistir “Toy Story 3” foi uma experiência marcante demais para mim. Apesar de ser um filme infantil, me emocionou, me fez rir bastante e passar um bom tempo com meus amigos que assistiram junto comigo. Não tinha muitas pretensões quanto ao filme, mas fui surpreendido pela velha turma de brinquedos, e também pelos novos personagens que deram ao terceiro filme da trilogia um grande acréscimo.
Mas o que realmente me motivou a analisar o filme mais de perto, não foi o intrépido cowboy Woody ou o dinâmico galáctico Buzz. Tão pouco algum dos outros brinquedos do garoto Andy. Quem de fato me comoveu foi o vilão da história, Lotso, o urso.
Os maiores vilões no ponto de vista da literatura de ficção ou dos desenhos e contos, não são aqueles de bigodinho torcido, monóculo e cartola preta com uma risada histérica e sarcástica, que querem anarquizar tudo e todos simplesmente porque não acham que ser bonzinho seja algo, bem, bom.
Um grande vilão possui um razão pra ser quem é e fazer o que faz. Eles têm um plano de fundo, uma história que conta como eles se tornaram dessa maneira. Os bons escritores de ficção ao criarem seus personagens para serem vilões, devem fazer o leitor pensar: “E se tivesse acontecido comigo, será que eu faria algo diferente?”.
E é isso o que se passa com o urso Lotso. Ele é um brinquedo, amado por seu dono, mais do que qualquer brinquedo já foi. Mas por acidente, ele se encontra perdido e conseqüentemente trocado por outro brinquedo. Essa revelação o deixa chocado e começa a promover a mudança de sua identidade. Essa é a razão que o faz ser o vilão do filme.
Mas sabe por que Lotso é um personagem tão bem criado? É porque ele não é apenas um mero objeto da ficção. Todos os dias vemos ao nosso redor, milhares de pessoas que sofrem do mesmo infortúnio. Por alguma razão se decepcionaram com o amor e estão perdidas no mundo, desesperadas por um pouco de aceitação. Quantas crianças são abandonadas? Quantos meninos crescem sem a presença de uma figura paterna? Quantos cônjuges estão despedaçados pois a chama do relacionamento se apagou? Quantas garotas negligenciadas crescem se atirando de um rapaz para outro, sempre com medo de estabelecer uma raiz mais profunda no relacionamento?
Lotso teve seu coração partido e se decepcionou com o amor. Parou de acreditar. Mas não sem motivos. O amor o havia abandonado, deixado ele na mão. E por essa razão, o urso de brinquedo passou a acreditar que o amor de nada vale. Não significa nada. Dessa forma, ele resolveu superar e seguir em frente, construindo para si uma nova vida, onde poderia ter poder, respeito e aceitação, ainda que por meios autoritários e sem amor. Ora, troque “brinquedo” por “pessoa” e você verá essa mesma história se exibindo na vida de milhares de seres humanos.
Mas o que torna a história interessante é a possibilidade da redenção do personagem. Perto do fim do filme, Lotso se encontra preso em um amontoado de lixo a caminho do incinerador. Ele começa a clamar por piedade e socorro. Os heróis Woody e Buzz, que provavelmente estariam bem melhores com a destruição do vilão, fazem uma demonstração de graça e salvam o urso do fim certo.
Ele se encontra em uma posição tanto quanto curiosa. Ele teve seu coração destruído e se decepcionou com o amor, mas aqui, nesse exato momento do filme, ele se vê cercado de amor, ao ser resgatado por quem não lhe devia nada, ao contrário, pessoas que se beneficiariam com seu fim arriscaram suas vidas para salvarem a dele.
E agora, ele tinha uma escolha para fazer. Voltar para sua máscara de maldade e tirania ou dar uma segunda chance ao amor. Infelizmente, o roteiro nos faz ver o contrário. Por vontade própria o urso escolhe abraçar o mal, e isso, acima de qualquer outra coisa no filme, é que o faz ser um vilão tão desprezível.
Várias pessoas ao redor do mundo fazem as coisas que Lotso fez. Rebaixam aos outros, manipulam quem está ao seu redor, se afastam dos amigos mais próximos e assim vão se rebaixando. Você provavelmente, assim como eu, conhece pessoas que são assim. A maioria de nós entende que devemos punir essas pessoas pelo modo como elas agem, mas estamos enganados. Assim como o urso de brinquedo, elas muito provavelmente estão apenas reagindo da forma como sabem ao modo como a vida as tratou. Causar mais dor a elas não vai ajudar em nada, apenas aumentará a fuga.
A única forma de ajudá-los, e a forma como a Bíblia ensina, é amá-los incondicionalmente, não importa como eles são ou o que fizeram. Não somente porque é a coisa certa para se fazer, mas porque dessa forma eles poderão ver em ação o poder transformador do amor. Quem sabe assim eles terão a fé restaurada. Talvez eles descubram que a dor e o desapontamento que eles sentem não sejam a história completa, que exista algo mais além do mal que eles conhecem.
É possível que eles reajam da mesma forma que o vilão reagiu, voltando para o velho eu e se escondendo atrás do escudo que os protege da dor, ou qualquer outra forma que tenham encontrado para se esquivar do sofrimento. Mas sério, quem somos nós para lhes negar a oportunidade da escolha?
Ver a forma como o filme trata Lotso, não é exatamente a diversão do filme. Terminar como um adorno de pára-choque de caminhão não é o sonho de ninguém. Quer dizer, é o que ele merece, depois de tudo o que ele fez durante o filme, mas ao mesmo tempo, não é o que ele merece, pois ele é um brinquedo e foi criado para ser amado e estimado.
É a partir dessa perspectiva que começamos a enxergar o paralelo cristão. Nós não somos diferentes do urso vilão. Nossas ações nos fazem merecer a punição e a morte. Mas ao mesmo tempo, não é o que merecemos, pois fomos criados por Deus com o propósito de ter um relacionamento eterno de amor com Ele.
E foi para destruir de vez esse paradoxo, que Deus enviou seu único filho para proporcionar uma ponte no abismo que nos afastava de sua santa presença. Ele fez tudo. A Palavra se fez carne, habitou entre nós, viveu uma vida perfeita e sem pecados, tomou a nossa culpa em seus ombros e suportou toda a vergonha da cruz, para que pudéssemos nos reconciliar com Deus. Não fizemos nada para merecer isso. Ele sozinho pavimentou o caminho de volta para Ele, para que todos que quiserem possam encontrá-Lo se o buscarem.
Nós fomos criados para a redenção.
Mas a graça e restauração divina não se aplicam somente à nossa vida eterna. Ele quer curar o todo. Se como Lotso, construímos máscaras de falsa identidade, manipulamos os outros e ofendemos a todos para que mantenham distância de nós para não nos ferir, o amor de Deus vem como uma bigorna de cartoon, esmagando todo e qualquer sentimento de abandono e solidão. Ele não quer que sejamos seres quebrados. Quer preencher cada necessidade que tivermos, ser nosso tudo.
Cada um de nós enfrenta a escolha de Lotso. Ser o velho homem, ou se tornar uma nova pessoa, seja qual for o preço a pagar. Bem, meu convite é que você não faça a mesma escolha que ele fez. A redenção está aí, disponível para mim e para você. Não fuja dela. Fuja do mundo para os braços de Cristo. Ele pode te ensinar tudo sobre o verdadeiro amor. Deixe que Ele abra teu coração. Deixe que Ele construa tua nova identidade. Somente Ele pode te levar ao infinito... e além!
Isaque Resende
Gostei muito! Eu jamais teria pensado o filme dessa forma sozinha!
ResponderExcluirEu acho que sou a única pessoa que ama o Lotso.
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