Eu li a série original dos quadrinhos uma semana antes de assistir ao filme, e fiquei impressionado com a fidelidade retratada na história do cinema. A maior parte do tempo, os quadrinhos funcionam como story-boards e as falas são quase idênticas. Uma delícia para os fãs dos comics. Mas o interessante no enredo dos Watchmen, é notar a falibilidade, o traço humano dos heróis. Diferentemente de qualquer outro herói perfeito, os personagens do filme possuem grandes desvios de caráter e lutam com suas próprias escolhas e ações.
Após o assassinato do herói Comediante, Rorschach, outro herói, decide investigar uma possível conspiração para aniquilar todos os heróis que ainda existem após a proibição de circulação de justiceiros mascarados. O que acaba se revelando porém, é uma trama muito mais complicada do que ele esperava.
Se você ainda pretende ver o filme, aconselho a não ler o resto deste artigo, pois contarei o final do filme para a nossa aplicação filosófica. Assim sendo, um bom filme pra você. Se ainda está lendo, é porque se responsabiliza por qualquer efeito spoiler que possa ser causado.
O mais poderoso de todos os heróis, e o único que realmente tem poderes extra humanos, é o Dr. Manhattan. Ele possui habilidades onipresentes, oniscientes e quase onipotentes. Resumindo, ele é praticamente um deus. Mas esse deus acaba se desiludindo com a humanidade e se muda para marte. Ainda na Terra, as nações em guerra vivem o terror das ameaças nucleares. Para por fim a isso, Ozzymandias, um dos ex-Watchmen, arma um plano que consiste em explodir metade de Nova Iorque e colocar a culpa no Dr. Manhattan. E é isso que acontece. Temendo outro ataque destrutivo do personagem azulão, a humanidade resolve se acalmar e suspender as ameaças nucleares.
É interessante que a tática usada por Ozzymandias é a mesma acusação que Marx faz a Deus e ao cristianismo. Marx via a religião não apenas como uma ilusão. Ela tem uma função social: distrair os oprimidos da realidade de sua opressão. “Deus é para o homem o que a mercadoria é para o trabalhador: um produto que passa a dominar o produtor.” Enquanto houvesse a idéia de um deus que vigia e pune, a igreja ordenava o que bem queria, e a classe trabalhadora era explorada sem o direito de reivindicação. Ou seja, Deus, produto da fantasia do homem, se torna dono do seu criador, escravizando-o a um mundo de privações. Por tanto, o filósofo alemão considera a religião como mais um artificio de dominação de classes, um produto histórico que surgiu para alienar e impossibilitar o rompimento das classes trabalhadoras das correntes da exploração.
Porém, com o estabelecimento do Estado comunista em várias partes do mundo, a religião não apenas sobreviveu, mas também prosperou, apesar dos esforços do Estado para eliminá-la. Já o marxismo, depois da queda do muro de Berlim, figura apenas nos livros de História.
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